Comprar um livro infantil não é fácil. A sorte é que os livros infantis têm a grande vantagem de os podermos ler ou observar na íntegra antes de os comprarmos, o que facilita a escolha. Apesar de ser uma atividade extremamente prazerosa, nem por isso é mais fácil. Atualmente existe um enorme leque de opções, desde títulos inusitados, ilustrações encantadoras, histórias envolventes e fascinantes, que tornam a escolha muito difícil.
Escolher o livro certo para uma criança é uma decisão mais importante do que possamos imaginar. Isto porque as experiências que ela vai ter com essas obras, irão influenciar a relação que cada criança terá com a leitura, nos anos seguintes e mesmo na sua vida adulta. Se escolhermos obras que as encantem, que as prendam, que as cativem, isso vai permitir que não fiquem frustradas, pois não têm em mãos uma obra complexa e exigente demais para a sua idade ou até pouco envolventes. Dessa forma estaremos a estimular o seu gosto pela leitura.
Então como escolher um livro para crianças?
Este texto serve para te ajudar a fazer essa escolha.
Conhecer a criança
Embora seja essencial incentivar as crianças a pesquisar outros temas, é importante que, inicialmente, compremos livros que sejam do agrado das crianças. Isso é uma maneira de não os afastarmos da leitura logo no início. Do que é que ela gosta? De aventuras? De princesas? De dragões? De dinossauros? Super-heróis? Bruxas? Animais? É importante conseguirmos encontrar as respostas a estas perguntas, para que o livro seja uma prenda realmente especial.
Observar o nome do (a) autor (a) e editora
Atualmente, conseguimos aceder com facilidade aos nomes dos maiores escritores de literatura infantil, mas também às editoras vocacionadas para este universo. Escolher um livro escrito pelas mãos de um (a) escritor (a) ou de uma editora reconhecida é garantia de sucesso. Mas não vire as costas às novidades neste mundo. Têm surgido escritores com obras interessantíssimas, é uma questão de lhes dar uma oportunidade.
Recupere memórias
Nada mais fácil do que irmos ao nosso baú de memórias para nos lembrarmos daquilo que gostávamos de ler quando erámos crianças. O Peter Pan? O Capuchinho vermelho? As Aventuras de Tom Sawyer? Alice no País das Maravilhas? A Volta ao Mundo em 80 dias? A Ilha do Tesouro?
Tente recuperar esses clássicos e troque experiências com a criança. Vai ficar surpreendido (a) com as reações.
As bibliotecas
Farto-me de falar da importância que as bibliotecas exercem na promoção da leitura. Para além dos profissionais extremamente qualificados que nos podem ajudar na escolha de livros infantis, também podemos solicitar o empréstimo. Desta forma, podemos acompanhar, com facilidade, novos autores e géneros literários. Nos dias de hoje, estes espaços levam a cabo uma diversidade de atividades que promovem o gosto pela leitura e podem ser uma excelente forma de apresentarmos obras interessantíssimas às nossas crianças, o que facilitará a nossa escolha na hora de comprarmos algum livro.
Um livro ilustrado é a primeira galeria de arte que uma criança visita.
Kveta Pacovska, artista e ilustradora tcheca,
vencedora do prémio Hans Christian Andersen, em 1992.
As ilustrações
A maior parte das pessoas escolhe os livros infantis por causa do título e das ilustrações. De facto, estes dois itens são tentadores, mas tenha em atenção se as ilustrações estão coordenadas com o texto, para que a criança facilmente consiga associar as palavras aos desenhos. Um livro infantil, com boas ilustrações, consegue ser uma experiência muito enriquecedora, pois aumenta o seu repertório e estimula o seu gosto pela leitura.
O material
Os livros de capa dura são, sem dúvida, uma prenda mais valorizada, simplesmente porque são mais resistentes e assim se podem tornar uma memória para toda a vida do leitor.
A indicação da idade
Muitos dos livros referem a idade a que se destina a obra. Contudo, devemos aceitar essa indicação apenas como uma referência. Nunca é cedo demais para a leitura.
Dos 0 aos 2 anos – Quando são pequenas, as crianças exploram o mundo através dos 5 sentidos. Assim sendo, as melhores opções para estas idades, passam por livros de pano que eles podem levar à boca ou até de plástico para brincarem com eles no banho. Além do mais, são materiais mais resistentes e facilmente laváveis. Que tenham desenhos apelativos e coloridos, frases curtas e simples, páginas com texturas, com música (ou textos que possam ser cantados), com ritmo e rimas. Escolher livros com cantos arredondados para evitar que se magoem e com folhas grossas para que o seu manuseamento seja mais fácil.
Dos 3 aos 5 anos – É nesta fase que as crianças, para além de não fazerem distinção entre o mundo real e o mundo imaginário, começam a falar, a fazer perguntas, a exprimir os seus sentimentos, os seus medos. Como tal, os livros apropriados para estas idades podem já ter letras e números (mas com noções básicas, por ex. do 1 ao 10), livros pop-up, livros com janelas para abrir e explorar, com dobragens, livros com um só tema (a natureza, os números, os animais, os legumes), livros sobre situações do dia a dia (podem usar livros que explorem a hora de dormir, para os ajudar a relaxar).
Dos 6 aos 8 anos – Estamos a falar de uma idade em que as crianças já conseguem ler os livros sozinhas e têm uma maior maturidade. Como tal, os livros podem ser mais espessos, lidos ao longo de vários dias. Histórias com um enredo mais complexo, com princípio, meio e fim, histórias que abordem as aprendizagens da escola, mas também histórias com temas de aventura e ação, que os prendam ao enredo.
Dos 9 aos 12 anos – Nestas idades, as crianças já têm um desenvolvimento bastante interessante para explorarem diferentes temáticas. É uma fase em que começam a marcar os seus interesses e ideais, por isso não é de admirar que nesta altura já escolham temas mais complexos: suspense e terror, ficção científica, histórias onde os protagonistas geram empatia e identificação, relatos históricos, temas polémicos (como a desilusão, rejeição).
A escolha de textos desafiadores, que não caiam na sedução simplista e demagógica,
que provoquem perguntas, silêncios, imagens, gestos e rejeições é a antessala da escuta.
Cecília Bajour, professora e pesquisadora argentina.
A diversidade de temáticas
É importante que ofereçamos uma diversidade de temáticas às crianças. Essa diversidade pode passar pelos contos clássicos e modernos, banda desenhada, poesia, livros de narrativas visuais, de forma que experimentem o contacto com diferentes estilos, linguagens e géneros.
As escolhas da criança
Apesar de podermos indicar algumas obras para a criança, devemos respeitar as suas escolhas, mesmo que achemos que a obra escolhida não é excecional.
Estimule conversas acerca da temática
É importante estarmos atentos às novidades que vão surgindo no mundo da literatura infantil. Para isso devemos provocar conversas que abordem essa temática e isso pode ser feito com os nossos amigos que também são pais, na biblioteca, nas livrarias, com os professores e educadores dos nossos filhos.
Estar envolvido no mundo da literatura infantil
Nos dias de hoje é muito fácil estar a par das novidades neste universo. Podemos acompanhar páginas de escritores nesta área, que nos vão informando dos novos lançamentos, páginas de contadores de histórias, «influencers» e leitores vorazes, que vão sugerindo obras que os fascinaram. Consulte revistas, jornais, sites, blogs. Temos os sites de livrarias que já vão fazendo as compilações dos maiores sucessos na literatura infantil. E, claro, podemos usar os motores de busca, onde basta que escrevamos «os melhores livros infantis do ano X» para que nos apareça um vasto leque de opções. Com estes gestos, estamos a aumentar o nosso repertório e, com quem ganha são mesmos os mais pequenos leitores deste planeta. habilidades socioemocionais, entre muitos outros benefícios.
Para concluir este artigo, volto a reforçar a importância das obras que escolhemos para oferecer às crianças, pois a mesma será determinante na sua formação como leitores, podendo afastá-los ou aproximá-los do mundo dos livros, consoante o impacto que a mesma terá nela.
“Escolher livros pode ser muito prazeroso se a pessoa também está interessada,
apaixonada, intrigada em relação a essas obras”
Ana Paula Campos, designer e pesquisadora
Carina Novo